Deuses primordiais é um termo que se refere aos primeiros deuses, anteriores à própria criação e responsáveis por ela. Em todos os tempos e eras, a humanidade sempre acreditou num ser primordial, o “grande criador”, que deu origem primeiro a si mesmo e depois ao universo, ao mundo e por fim ao próprio homem.
O grande problema no estudo desses mitos, é que são tão antigos, tanto quanto a própria humanidade, datando desde quando o homem começou a se organizar em grupos e sociedades, que ao longo dos tempos muitas vezes sua concepção original vai se modificando a cada período histórico. Outra grande dificuldade é a falta de registros escritos, pois esses mitos tem sua origem desde a pré-história, de forma que muitas vezes o que se sabe deles foi estudado, pesquisado e concluído eras depois.
Na mitologia Africana
em particular essa dificuldade
é talvez ainda maior e ainda mais marcante.
Três Deuses Primordiais e “criadores”: Olorun, Odudua e Obatalá.
Os estudos e registros mais importantes e detalhados datam mais ou menos do século dezenove apenas, antes disso o conhecimento, a cultura e até a mesma a religião eram passadas verbalmente, o que por si só já bastaria para que esses mitos fossem se modificando ao longo do tempo; mais tarde então, quando o povo africano foi colonizado pelo europeu e se espalhou pelo mundo traficado como escravos, sua cultura original geralmente mesclou-se de alguma forma à cultura do país ou região onde ficaram confinados ou a de seus colonizadores.
Embora haja muitas interpretações e versões diferentes, de acordo com o país ou tribo de origem, um ponto em comum pode ser observado, o primeiro grande deus, a força primordial, esse todos concordam que seja Olorun.
Na verdade, seriam, três deuses considerados como forças primordiais e “criadores”: Olorun, Odudua e Obatalá.
Quando existia somente o nada, o vazio, quem primeiro surgiu foi Olorun, em seguida ele criou o Orun e o Aiye, ou seja, o céu e a terra.
Mas aqui já começam as divergências, alguns dizem que ele primeiro criou, ou gerou, o segundo ser, o que veio logo após ele mesmo, que seria Odudua, e aí ele e Odudua criaram juntos o universo e o mundo, e tudo o que há nele.
Olorun
Orun é o céu, portanto Olorun seria o Dono do Orun (dono do céu), ele é o grande criador, o “Deus Pai Criador” de tudo e de todos.
Embora reconhecido e louvado como Único e Soberano, não existe templo individual para Ele.
Olorun é o ser imaterial, invisível e eterno, a vontade suprema que criou e governa todas as coisas.
A exemplo de deuses de outras mitologias, Olorun é conhecido por diferentes nomes, entre estes Olodumarê.
De acordo com um dos mitos da criação yoruba, Olorun, ou Olodumare, delegou os poderes de criação do Aiye (terra) para seu primeiro e mais velho filho, Orisanla (Orixalá) ou Obatalá.
Segundo alguns mitos Olorun gerou a partir de seu próprio corpo, como se fosse uma espécie de bipartição, os seres seguintes, que seriam Odudua e Obatalá.
Odudua
Odudua é visto normalmente como uma entidade masculina, mas nos mitos mais antigos, era uma entidade feminina. Segundo alguns Odudua era uma deusa, uma das forças primordiais do universo, mas também existiu na terra, em seus primórdios, um grande guerreiro, rei de seu povo, chamado também Odudua, que seria de fato o lado humano da própria Odudua, portanto o próprio, ou a própria, Odudua. Ou seja, Odudua em sua forma divina primordial seria de fato uma deusa, mas ao se manifestar na terra como ser humano, o fez na forma de homem, daí a confusão quanto ao seu verdadeiro gênero. Mas não se trata de um ser bissexuado, e sim de um único ser com duas diferentes manifestações, uma puramente divina, a grande deusa-mãe africana, e outra humana, como homem, que viveu carnalmente e um dia veio a desencarnar e se divinizar novamente.
Odudua, então, de certa forma dividiu-se em dois, a grande deusa criadora do universo, e o grande guerreiro que uma vez desencarnado tornou-se também um deus.
Odudua, a deusa-mãe, surgiu a partir de Olorun, juntos eles criaram o universo e, erroneamente alguns acreditam que juntos também geraram Obatalá. Na verdade, porém, Obatalá teria surgido também a partir de Olurun, que o gerou sozinho e espontaneamente, e não de uma suposta união com Odudua.
Embora ambos tenham surgido de Olorun, Odudua não é sua filha e sim sua igual, co-participadora na criação do universo, enquanto Obatalá sim seria seu primeiro filho, pois Odudua teria simplesmente surgido, gerando a si mesma também, mas a partir do próprio Olorun e de seu corpo, enquanto Obatalá teria sido gerado por Olorun, mas também a partir de seu próprio corpo.
A diferença é que Odudua surgiu de Olorun, mas gerou a si mesma, como se Olorun fosse dividido em duas partes iguais e distintas, e Obatalá foi gerado, ou talvez fosse melhor dizer “criado”, por Olorun. Ou seja, primeiro surgiu Olorun que foi dividido em dois, surgindo assim Odudua, e por último surgiu Obatalá que foi gerado por Olorun.
Obatalá, portanto, é filho de Olorun, que depois de criar o Aiye (terra), deu a seu filho os poderes e direito de gerar a vida.
Isso de certa forma fez de Obatalá o criador do mundo, pois foi ele que gerou, aliás, criou os animais, as plantas e o homem.
Obatalá é conhecido como “O Grande Òrìsà” ou “O Rei do Pano Branco”. Foi o primeiro Orixá criado por Olodumare (Olorun), é considerado o maior e mais velho dos os Orixás e conhecido como o rei de vestes brancas.
Obatalá
Segundo alguns, Oxalá e Obatalá, são diferentes nomes do mesmo orixá, segundo outros são orixás diferentes e distintos entre si.
Pessoalmente, pelo que pude observar, Obatalá seria uma espécie de Oxalá, porém mais velho, antigo, primordial, não mais cultuado, porém ainda reverenciado.
Nos cultos de origem africana, ao redor do mundo, os orixás comumente incorporam nos fiéis, ou seja, manifestam-se nos corpos de médiuns que são preparados para este fim através e a partir de uma série de rituais de iniciação. Mas os deuses primordiais, aqueles que são responsáveis pela criação do universo, do mundo e dos homens, esses não se manifestam através de incorporação mediúnica. É o caso de Obatalá, que não dá incorporação, mas cujo mito está intimamente ligado ao de Oxalá, sendo, portanto, uma qualidade ou tipo de Oxalá.
Há duas qualidades de Oxalá que incorporam, o mais velho é Oxalufan, que é filho de Obatalá, e o mais novo é Oxaguian, que por sua vez seria filho de Oxalufã, o mais velho. Os “Oxalás”, portanto, seriam os descendentes diretos de Olorun: Filho (Obatalá), neto (Oxalufan) e bisneto (Oxaguian).
Oxalufan
Esses três seriam, portanto, diferentes qualidades de Oxalá, sendo que os dois últimos são distinguidos e chamados por seus próprios nomes, Oxalufã e Oxaguiã, cujos nomes na verdade seriam contrações de Oxalá Alufan e Oxalá Aguian, já quando se fala simplesmente de Oxalá, menos comumente chamado também de Orixalá, mas sem determinar sua qualidade, na verdade estamos falando de Obatalá.
Oxaguian
Como já dito, Obatalá não se manifesta em médiuns, logo não existem templos dedicados a ele, mas todos os templos o reverenciam como um dos grandes criadores e, segundo o mito, é tão grande o seu poder que sua palavra transforma-se imediatamente em realidade.
Aliás, foi Obatalá que, ao criar o homem, deu também a ele à habilidade da fala, por isso, quando se presta homenagem a ele, não se fala, pois a palavra pertence a ele e durante suas festas guarda-se silêncio por um período de três semanas.
Obatalá representa a massa de ar, as águas frias e imóveis do começo do mundo, controla a formação de novos seres, é o senhor dos vivos e dos mortos, preside o nascimento, a iniciação e a morte.
É também o responsável pelos defeitos físicos, e é corcunda porque se recusou a fazer uma oferenda de sal numa cabaça e Èsù, que é conhecido por sua esperteza e por conseguir enganar e “aprontar” com todo mundo, castigou-o pregando-lhe a cabaça nas costas, razão pela qual Obatalá não come sal: comer sal para ele constitui um ato de alto canibalismo.
Obatalá é o filho direto de Olorun, o criador do universo.
Depois de criado o universo e a terra em específico, depois de milhares de anos Olorun resolveu dar vida a terra e enviou seu filho direto “Obatalá” para esse fim à terra que até então era composta de água.
Vindo com o saco da criação, Obatalá trouxe consigo uma galinha d’angola que foi responsável por espalhar a terra sobre as águas, dando desta maneira forma a terra sobre a água.
Depois de criar a terra, os montes e etc., Obatalá criou os vegetais, os animais e por último, usando a própria terra que ele já havia criado, com a ajuda de Nanã moldou o ser humano com o barro e então lhe deu o sopro da vida. Como foi ele que gerou a humanidade, é comum recorrer-se a ele quando se trata de grandes problemas de saúde, pois já que deu a vida ao homem, pode também lhe restituir a saúde.